Entre o olhar e o sorriso | A intrigante relação entre emoções e as expressões faciais

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Entender sobre as emoções e a face é uma tarefa central para quem deseja aprender a observar as expressões faciais e tirar conclusões a partir disso.

Apesar do grande interesse sobre o assunto, nos falta muito a saber sobre as emoções: o que são, como percebê-las e como “controlar” as suas influências sobre nós.

Não adianta aprender a observar as emoções na face sem saber o que faremos com isso. Nessa matéria, nossa ênfase será nas emoções, já que a face é a “janela” para as percebamos.

linguagem-corporal-emocoes-1Saber lidar com as emoções é importante

Durante a nossa existência, dificilmente encontraremos pessoas que nos ensinem a lidar com nossas emoções. Por outro lado, cada experiência vivida as desencadeia sem que sobre isso tenhamos um controle consistente.

Considerando que nossas emoções estão no centro do nosso sistema motivacional, é possível afirmar que elas são incrivelmente valiosas e que merecem o nosso tempo para entendê-las e para aprender a expressá-las com assertividade.

Em minha experiência como pesquisador, estudante e como pessoa, tenho a percepção de que nos é muito mais seguro falar sobre emoções do que vivencia-las. Em minha vivência acadêmica (em psicologia, que é a minha formação mais extensa), por exemplo, eu encontrei muitos professores que se diziam especialistas em emoções, mas tratavam os seus alunos com muita violência simbólica. Aliás, poucos ambientes são tão simbolicamente violentos quanto as nossas escolas.

Violência simbólica é um termo antigo, utilizado por sociólogos franceses (e.g. Bourdieu) que vem sendo substituído por outros, mas que ainda serve para indicar a existência de violência verbal e opressão velada. No contexto escolar, isso acontece, por exemplo, por meio da aplicação de avaliações que desmerecem o que o aluno aprendeu e que buscam identificar os conteúdos que ele desconhece ao invés do que foi apresentado durante as aulas.

A aplicação de avaliações cujo objetivo principal é mostrar a superioridade do professor em relação aos seus alunos é um desvio de finalidade muito comum na caminhada da escolarização e não há quem já não tenha experimentado ou sido testemunha desse tipo de fenômeno. Em meio a ambientes emocionalmente insalubres como esses, o entulho emocional vai se acumulando em nossas vidas.

Na maioria dos nossos lares também não encontramos um ambiente pedagógico sobre as emoções. Durante as primeiras fases de nossa vida, é comum ouvirmos conselhos como esses:

  • “sacode a poeira e segue adiante”
  • “seja um bom menino(a)”
  • “pare de frescura”
  • “isso não é nada” ou
  • que somos “excessivamente sensíveis”

Cada expressão dessas, isoladamente, pode fazer sentido e parecerem positivas mas, genericamente, o que elas têm em comum é o seu poder de levar determinada pessoa a esconder as suas emoções. Ao oculta-las, a pessoa não resolve o problema e, além disso, cria uma pressão interna que provém da própria emoção escondida. Em algum momento isso vai dar problema.

 

Falar sobre as nossas emoções não é suficiente. Emoções e a face.

Nesse mesmo contexto, nos parece mais seguro “falar sobre as emoções” (aqueles que conseguem). Essa é uma abordagem mais cognitiva, o que chamamos de sentimentos, sendo uma elaboração intelectual sobre a experiência emocional, que é bem mais complexa e que envolve outras dimensões que não podem ser expressas com palavras. A uma boa parte de nós parece ser mais confortável apenas falar sobre as emoções – porque estamos tristes, com quem ficamos com raiva, etc – do que experimentá-las.

Saiba mais sobre o conceito de emoções:

 

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Devemos ter em mente que:

  • A vivência das emoções é fundamental para aproveitar sua força motivacional;
  • As emoções desempenham um papel importante em nosso sistema motivacional, preparando-nos para a ação;
  • A observação das expressões faciais e do comportamento não verbal é essencial para entender e auxiliar os outros na expressão assertiva de suas emoções;
  • A expressão assertiva de uma emoção envolve direcioná-la de maneira construtiva, mesmo que a emoção seja inicialmente negativa, contribuindo para reações positivas em contextos apropriados;
  • O amadurecimento emocional permite o uso adequado das emoções como um “motor” para respostas construtivas em diversas situações, como lidar com críticas no ambiente de trabalho.

Apesar das dificuldades, precisamos encontrar uma maneira de vivenciarmos as nossas emoções para podermos tirar o melhor proveito da sua força motivacional.

É importante sabermos que nossas emoções nos preparam para agir, elas fazem parte de nosso sistema motivacional. É justamente para promover essa ação e para ajudarmos os outros a expressarem as suas emoções que eu entendo ser a observação da face e do comportamento não verbal, na totalidade, muito importante.

Suponhamos que interagimos com uma pessoa que não se sente à vontade para expressar as suas emoções, ou ainda que ela mesma não saiba como fazer. Ao observarmos as suas expressões faciais, teremos dicas sobre as emoções subjacentes e poderemos elaborar uma estratégia para promover a vivência daquela emoção ou a sua expressão assertiva. 

“Expressão assertiva de uma emoção” significa, nessa conversa, o seu direcionamento positivo em determinado contexto, ainda que a emoção seja negativa. Exemplos disso podem ocorrer em reuniões de trabalho quando somos criticados. O natural e até o esperado é sentirmos raiva, entretanto não levantamos e agredimos quem nos criticou.

Ao invés disso, podemos explicar, assumir a responsabilidade pelo erro apontado ou até mesmo oferecermos alternativas, ou reparações (tudo considerando que a crítica se baseia em fatos). Essa é a foma correta da utilização da raiva como “motor” para uma reação positiva. Isso pode ocorrer quando estamos em um processo de amadurecimento emocional.

Se você chegou a esse ponto da leitura, receba a minha congratulação pelo seu interesse acerca das emoções e a face. Lembre-se de que:

  • as emoções são um motor para as nossas ações;
  • o nosso aprendizado formal promove a supressão das nossas emoções;
  • essa supressão é apenas aparente, mas o “motor” fica internamente trabalhando e bagunçando tudo;
  • ao observarmos as expressões faciais temos dicas sobre as emoções a elas associadas.

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Toda terça-feira, um tópico sobre educação socioemocional, linguagem corporal e emoções.

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