Uma proposta de definição para a violência

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Algumas idiossincrasias permeiam os trabalhos de enfrentamento à violência. Uma delas é a dificuldade em encontrar uma definição para violência.

Nesse contexto, as técnicas científicas devem se orientar à análise dos aos processos decisórios e dos elementos comportamentais que possam nos ajudar a elaborarmos estratégias para o enfrentamento à violência. 

Tradicionalmente, optou-se pela elaboração fragmentada de definições de violência por meio das suas formas de expressão [física, psicológica, econômica, etc]. Isso se dá, em grande medida, pela necessidade jurídica e também por razões terapêuticas, que necessitam de especificidade para criar o nexo causal, no caso da primeira, e para elaborar estratégias de tratamento, no caso da segunda.

São, portanto, formas legítimas e úteis de definir a violência, mas possuem a desvantagem da fragmentação excessiva, o que dificulta a construção de estratégias de enfrentamento geral, que não sejam meramente repressivas.

A seguir, apresentamos uma definição que se orienta pelo processo decisório, enfatizando a responsabilidade do indivíduo e o exercício da sua liberdade em ser violento ou em buscar outras formas de expressão para lidar com seus desejos, emoções e decisões.

Qual seria uma nova definição para a violência?

Para tanto, propomos uma definição operacional de violência que nos ajuda a selecionar alguns aspectos-chave para o trabalho científico. Então, sob esse ponto de vista e sinteticamente, podemos definir a violência:

Como as formas comportamentais de expressão que pessoas, grupos ou sistemas cibernéticos digitais utilizam na tentativa de impor, assimetricamente, as suas decisões sobre outros, à revelia das convenções sociais, da legislação ou de valores universais, podendo causar algum tipo de dano individual ou coletivo. (PIRES, 2023a, p. 8031)

Essa visão, aparentemente mais simples e superficial, nos apresenta a vantagem de mergulharmos em um dos elementos comuns da violência, que são as decisões humanas ou dos sistemas cibernéticos digitais como representantes dos humanos, o que veremos cada vez mais presente no crime organizado e nos ambientes coletivos em geral.

Existe uma causa geral para a violência?

Essa abordagem nos oferece uma alternativa provisória, mas promissora, para responder à pergunta sobre a existência de uma causa geral para a violência:

– a decisão humana em expressar as suas vontades de forma assimétrica, desrespeitosa a convenções coletivas e despreocupada com os seus efeitos e com danos que possa causar.

Mantendo esse enquadramento teórico em mente, há que se refletir sobre a violência como a expressão da decisão humana, não apenas sob o ponto de vista cognitivo, do processamento da informação ou da avaliação de custos e benefícios, mas principalmente sob a ótica emocional.

Quais são os elementos fundamentais da violência?

É importante trazer ao primeiro plano o papel de certas emoções que estão na raiz dos três principais elementos da expressão violenta:

(1) a forte assimetria entre os envolvidos;

(2) o desrespeito às convenções formais, informais ou a valores universais; e

(3) a despreocupação com produção de algum dano.

Essa abordagem apresenta a vantagem de enfatizar a responsabilidade da pessoa violenta pelo seu comportamento. Além disso, se aplica a diversos outros contextos e serve de elemento teórico para a realização de diagnósticos em outros ambientes como o escolar e o organizacional.

Portanto, o estudo das emoções é bastante profícuo, em termos científicos, para a elaboração de metodologias que possam ser utilizadas para intervenção em ambientes violentos.

 

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Referências

PIRES, Sergio Fernandes Senna. Enfrentamento sustentável e integral à violência e aos preconceitos na escola: um desafio complexo, mas viável. Revista Contemporânea, [S. l.], v. 3, n. 07, p. 8012–8038, 2023. DOI: 10.56083/RCV3N7-036.

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