Ensinar emoções para crianças | 8 dicas importantes

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Ensinar emoções para crianças se reveste de uma importância muito maior do pensamos e não se restringe apenas aos nomes que elas recebem. Ao ensinar um amplo vocabulário emocional, elas serão capazes de explicar e de diferenciar uma quantidade maior dos seus próprios estados emocionais.

Esse aspecto, que pode, à primeira vista, parecer irrelevante, tem uma dupla função: (1) ajuda as crianças a expressarem os seus sentimentos; e (2) permite aos adultos a entenderem melhor e oferecerem um suporte mais adequado às crianças. Por exemplo, quando uma criança diz que está triste, essa informação pode não ser precisa. A culpa, que não é uma emoção básica, pode ser confundida com a tristeza, pois pertence à mesma “família emocional”.

Então, nessa postagem vamos ajudar você a entender:

  • O que são emoções;
  • As abordagens dimensionais das emoções;
  • 10 estratégias para ensinar emoções para crianças.

 

O que são emoções?

Para explicar a linguagem corporal, primeiramente precisamos entender as nossas emoções.

Assim como o pensamento, as emoções são um assunto de elevada complexidade no campo de estudo da Psicologia. Ao longo dos anos, muitas teorias e ideias foram produzidas sobre as nossas emoções.

Muito se diz, mas pouco resta de consenso quando se trata dos fenômenos emocionais humanos. Até mesmo especialistas experientes ficam confusos diante da vastidão de textos, estudos, maneiras de classificar e da farta literatura acerca das emoções (EKMAN, 2016).

ensinar-emocoes-para-criancas-ibrale-450O que há de comum nas teorias sobre emoções são, pelo menos, esses três elementos:

  • Envolve uma ativação fisiológica;
  • Existe uma experiência subjetiva;
  • Predispõe para um comportamento.

 

O que é emocionar-se?

Emocionar-se é:

Emocionar-se é sentir no corpo

Para que alguém se perceba emocionado, é preciso que nosso sistema nervoso seja ativado. Em questão de segundos, uma grande quantidade de diferentes substâncias químicas são liberadas em nossa corrente sanguínea provocando os efeitos fisiológicos que todos nós sentimos [nó na garganta, frio na barriga, arrepios etc]. Então, sob esse ponto de vista, as nossas emoções se expressam fisiologicamente (DAMÁSIO, 2004).

 

Emocionar-se é dar significado ao que se está sentindo

A expressão não-consciente é aqui usada preferencialmente em relação à palavra inconsciente por ser mais geral e não ser a minha intenção explicar a não-consciência por meio da teoria psicanalítica. Ademais, a palavra inconsciente já possui várias interpretações do senso comum, o que desaconselha o seu uso nesse texto.

Além das sensações fisiológicas referentes às emoções, existe uma experiência subjetiva [consciente e não-consciente] que está relacionada a esses estados fisiológicos. Normalmente, pode estar associada ao ambiente, à percepção de ameaças ou até mesmo aos nossos próprios pensamentos, por exemplo.

É, portanto, uma formulação mais complexa que tem uma dimensão linguística e semiótica. A partir de um determinado momento de nosso desenvolvimento, nós damos significados aos estados fisiológicos percebidos. Em outros casos, nossos próprios pensamentos podem desencadear as emoções. Um exemplo ocorre com pessoas que ao pensar em cobras sentem medo. Apesar dos repteis imaginados não serem reais, mesmo assim algumas pessoas relatarão uma experiência subjetiva de MEDO.

Emocionar-se é, portanto, abstrair, “pensar” sobre o que está ocorrendo. Quando alguém faz uma narrativa sobre as emoções, está expressando por meio da linguagem, utilizando signos linguísticos, para “representar” uma aproximação linguística das sensações experimentadas e das relações entre isso, os seus pensamentos, os fatos que possam estar relacionados e as suas razões.

A experiência subjetiva não-consciente ocorre quando a pessoa não consegue encontrar palavras para descrever ou não consegue fazer uma relação entre as suas sensações fisiológicas [então ela sabe que existe uma emoção ocorrendo, pois sente no corpo] e o que está ocorrendo ou os motivos pelos quais esses “sinais” fisiológicos apareceram naquele momento.

Nas principais teorias sobre emoções você poderá verificar que a essa experiência subjetiva [consciente ou não-consciente] se dá o nome de SENTIMENTO (DAMÁSIO, 2000).

 

Emocionar-se é estar predisposto a fazer ou deixar de fazer algo

Um terceiro elemento importantíssimo das emoções é que a “valência” da emoção te prepara, te predispõe a comportar-se, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. É necessário deixar claro que deixar de fazer algo também é um comportamento.

Esse aspecto é levado em grande consideração pelas pessoas que analisam o comportamento não-verbal, pois, em alguma medida, todos estamos interessados em prever o comportamento futuro uns dos outros…..

Uma vez que as nossas emoções nos predispõem para certa classe de comportamentos esperados, muita gente entende que a sua observação é a “chave” para conseguir algum tipo de vantagem…

Para mais detalhes e exemplos sobre emoções veja: Emoções – 6 fatos incontestáveis

 

Como são as abordagens dimensionais sobre emoções?

Uma “família” amplamente divulgada das abordagens sobre emoções é conhecida como dimensional. Essas abordagens se caracterizam por utilizar os nomes das emoções e tentar organizá-las por alguma similaridade. Normalmente, a metodologia usada para pesquisa é pedir para as pessoas explicarem o que estão sentindo e darem um nome para o sentimento.

Como anteriormente explicado, nossas emoções não são o que falamos sobre elas. Entretanto, nossos sentimentos são uma forma importante de compartilharmos uma parte do fenômeno emocional. Por isso, muitas das estratégias de educação socioemocional utiliza uma abordagem semiótica, focada no significado do que estamos sentindo.

Dessa forma, conforme uma criança vai ampliando o seu vocabulário emocional, ela se torna mais capaz de rotular [sintetizar] os seus sentimentos o que e nos ajuda a apoiá-las melhor. Isso também colabora com seu amadurecimento, à medida que as crianças aprendem a identificar os seus sentimentos, dos mais básicos, que estão no centro das “famílias emocionais”, como já explicamos, podem melhor compreender os componentes fisiológicos e comportamentais das emoções.

 

O que são emoções básicas?

Um modelo amplamente popular é o proposto pelo psicólogo e pesquisador Paul Ekman (1970), que nomeia seis emoções básicas como tristeza, alegria, medo, raiva, surpresa, e nojo. Em 1990, ele expandiu essa lista acrescentando o desprezo.

Mesmo com toda a investigação científica sobre as emoções, os estudos estão longe de estar completos, mas uma coisa é muito clara: dar nomes aos estados emocionais nos ajuda a desenvolver competências para gerir as nossas emoções. Nesse contexto, as crianças vivenciam emoções complexas assim como nós; raiva, excitação, gratidão, frustração e alegria.

As crianças não nascem com a capacidade de rotular como estão se sentindo. Freqüentemente, vemos sua expressão emocional demonstrada por meio de expressões faciais, linguagem corporal e outros comportamentos.

Para ajudar no desenvolvimento infantil, precisamos ensinar  as estratégias para se expressarem adequadamente – elas precisam: (1) do vocabulário, juntamente com (2) uma compreensão de como as emoções são percebidas nos seus corpos e (3) como isso influencia o seu comportamento.

 

O que fazer para ensinar emoções para as crianças?

Desde o nascimento, os bebês começam a expressar suas emoções. A forma como respondemos a essas emoções é o começo para ajudá-los a identificar, expressar e regular seus próprios sentimentos. Se você deixar cair uma panela no chão da cozinha, um bebê vai começar a chorar, supondo que esse barulho alto o tenha assustado.

Você se aproxima, pega o bebê com cuidado e diz com uma voz suave: “Isso deve ter te assustado, foi um barulho muito alto”. Isso pode acalmá-lo e muitas mães assim procedem. Ao interagir dessa forma, você acabou de vivenciar uma interação importante e pedagógica de expressão emocional, de rotulagem e de co-regulação de emoções com um recém-nascido. Este é, no entanto, apenas o começo de seu aprendizado sobre emoções.

As crianças que são capazes de rotular, expressar e gerir emoções de uma forma saudável, muitas vezes apresentam resultados incrivelmente positivos mais tarde na vida. Por meio da educação socioemocional, as crianças têm maior probabilidade de (MCCARTHY, 2021; MOLYNEUX & OBERLE, 2022):

    • serem empáticas e atenciosas;
    • terem um melhor desempenho na escola/no trabalho;
    • criarem relações positivas, de terem menos problemas comportamentais;
    • terem maior resiliência;
    • terem uma percepção positiva de si mesmas; e
    • demonstrarem maior confiança.

 

Modelação: mostre as suas próprias emoções e como lida com elas

A primeira estratégia que sugiro para ensinar emoções às crianças é a modelação. Isso significa expressar nossas próprias emoções, rotular sentimentos e falar sobre eles em voz alta. Diga às crianças quando você está sentindo emoções agradáveis e difíceis; todos nós experimentamos emoções e é importante que as crianças entendam que é uma experiência normal.

Modele o que você deseja ver e ouvir das crianças. Mostre e fale sobre suas próprias expressões faciais e como sua cabeça, coração e corpo se sentem enquanto você vivencia suas emoções. As crianças estão sempre observando e ouvindo, então faça o possível para modelar o que você deseja ver delas.

Converse com as crianças ao nível dos olhos

Ficar ao nível dos olhos das crianças mostra uma mensagem importante de segurança, confiança e cuidado. Mova-se suavemente, use uma voz calma, fique na altura da criança e faça contato visual.

O contato visual pode ser difícil para algumas crianças, especialmente em um estado de emoções intensas, portanto, não espere que elas façam contato visual com você.

Declare apoio e dê nome às emoções

Ajude as crianças a aprenderem a rotular as suas emoções, apoiando-as com afirmações como: “Parece que você está triste…”.

Permita as expressões das emoções

Queremos que as crianças saibam que não há problema em sentir e expressar quaisquer emoções que estejam sentindo. Tente dizer algo como: “Tudo bem que você esteja se sentindo frustrado, todos nós ficamos frustrados”.

Se uma criança estiver se comportando de maneira inaceitável, estabeleça limites com calma. Todas as emoções são aceitáveis. Entretanto, a forma como as expressmos pode não ser. Por exemplo, se alguém sente raiva, isso não significa que agressões serão aceitáveis.

A educação socioemocional é justamente ensinar a como regular os estados emocionais para que os comportamentos inaceitáveis não ocorram.

Ofereça apoio

Deixe as crianças saberem que você está ao seu lado. “Estou bem aqui.” Você também pode oferecer uma mão gentil em seus ombros ou um abraço, se desejarem.

Ouça as crianças com atenção

Ouça, com atenção, a perspectiva da criança à medida que ela reconhece os seus sentimentos. Tente não dizer nada enquanto eles estão se expressando. Ouça sem julgamento. Se houver uma pausa, vá em frente e reafirme com calma o que eles estão lhe dizendo – isso mostra que você está ouvindo. Se sentir necessidade, vá em frente e faça perguntas, por exemplo, “fale-me mais sobre isso”.

Valide e tenha empatia

Deixe as crianças saberem que você entende o que elas estão expressando e mostra empatia (eu vejo você). “Posso ver o quão difícil isso foi para você.”

Ajude a (co)regular

Ensinar emoções para crianças consiste, também em apoiar as crianças na regulação das suas emoções, especialmente as mais difíceis e negativas. Ao mostra-se calmo, enquanto incentiva a criança a usar suas próprias estratégias para se acalmar, é um exemplo de modelação dessa regulação.

As crianças são únicas, diferem no tempo que leva para se acalmarem e diferem na forma como atingem esse estado. Então, essa é uma oportunidade para treinar a sua paciência.

 

Palavras finais sobre ensinar emoções para crianças

Podemos concluir que que compreender como as emoções ocorrem é uma tarefa bastante complexa. Entretanto, há uma convergência teórica de que as emoções podem ser entendidas por meio de três elementos básicos: (a) a ativação fisiológica; (b) a experiência subjetiva consciente e não-consciente; (c) uma tendência para o comportamento.

Nesse contexto, observar a linguagem corporal e as expressões faciais são boas estratégias para compreendermos as emoções infantojuvenir. Nesse contexto, a linguagem corporal está relacionada aos primeiros estados emocionais, não raras vezes ainda não-conscientes, que se sucedem conforme vivenciamos nossas experiências pessoais e coletivas. Observa-la nos ajuda a entender a gênese  do processo emocional e de sua participação em nossos demais processos  psicológicos.

De forma geral você pode utilizar as seguintes estratégias ao ensinar emoções para crianças:

  • Modelação: mostre as suas próprias emoções e como lida com elas;
  • Converse com as crianças ao nível dos olhos;
  • Declare apoio e dê nome às emoções;
  • Permita as expressões das emoções;
  • Ofereça apoio;
  • Ouça as crianças com atenção;
  • Valide e tenha empatia;
  • Ajude a (co)regular.

Lidar com emoções será um desafio permanente para qualquer um de nós, Entretanto os benefícios de um trabalho profundo em ensinar emoções para crianças são bastante conhecidos em desenvolver:

  • a empatia;
  • melhores desempenhos acadêmicos e laborais;
  • a capacidade de estabelecer relações pessoais saudáveis;
  • a resiliência;
  • a autoconfiança.

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Toda terça-feira, um tópico sobre educação socioemocional, linguagem corporal e emoções.

Referências

DAMÁSIO, António. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si. Editora Companhia das Letras, 2015.

DAMÁSIO, António R. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Editora Companhia das Letras, 2004.

EKMAN, Paul. What scientists who study emotion agree about. Perspectives on psychological science, v. 11, n. 1, p. 31-34, 2016.

MCCARTHY, Deborah. Adding social emotional awareness to teacher education field experiences. The teacher educator, v. 56, n. 3, p. 287-304, 2021.

MOLYNEUX, Tonje M.; ZENI, Megan; OBERLE, Eva. Choose Your Own Adventure: Promoting Social and Emotional Development Through Outdoor Learning. Early Childhood Education Journal, p. 1-15, 2022.

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