A violência e o preconceito nas escolas constituem desafios persistentes e complexos que afetam profundamente a segurança e o desenvolvimento dos estudantes. Neste contexto, a inclusão de vozes infantojuvenis nas estratégias de enfrentamento a esses problemas é não apenas relevante, mas fundamental. Crianças e adolescentes, ao assumirem um papel ativo no desenvolvimento de soluções, podem transformar seu ambiente educacional em um espaço mais seguro e inclusivo.
Aqui você vai ver:
A Persistência da Violência
Historicamente, a violência é um fenômeno ubíquo, manifestando-se em todas as culturas e períodos, desde a pré-história. Na escola, essa violência se traduz em bullying, discriminação e até agressões físicas, muitas vezes refletindo problemas mais amplos da sociedade, como desigualdades sociais e preconceitos estruturais. O impacto psicológico e emocional dessas violências compromete a aprendizagem e pode causar problemas de ordem psicológica de longo prazo nos jovens. Compreender a complexidade e as raízes desse fenômeno é o primeiro passo para enfrentá-lo com eficácia. Os grafismos da Serra da Capivara cobrem um período de 12 a 6 mil anos antes do presente. Abaixo, representações de grafismos, relativos à violência, encontrados na Serra da Capivara – Piauí – Brasil (Silva, 2012).


Mais antigos são os vestígios de ferimentos possivelmente provocados por lanças nos restos mortais de um representante Neandertal encontrado nas montanhas do Curdistão – Shanidar 3 – remontando a 36 mil anos antes do presente.

Essas evidências nos indicam que atos de violência são tão antigos quanto a existência da ração humana, presente mesmo antes do Homo sapiens existir.
Aplicação de Teorias Modernas na compreensão da Violência Escolar
Teorias como a da Complexidade, a Teoria Geral dos Sistemas e a Psicologia Cultural nos oferecem uma lente através da qual podemos ver a violência escolar não como incidentes isolados, mas como parte de um sistema mais amplo que inclui influências sociais, culturais e institucionais. Essas teorias destacam como interações e interdependências complexas podem ser compreendidas e abordadas de maneira sistêmica. Por exemplo, a violência pode ser vista como uma manifestação de desequilíbrios de poder, que podem ser abordados promovendo maior igualdade e inclusão dentro do ambiente escolar.

Protagonismo Infantojuvenil: Definição e Aplicações no Ambiente Escolar
O protagonismo infantojuvenil emerge como uma força transformadora dentro do ambiente escolar, principalmente quando consideramos os desafios contemporâneos relacionados à violência e ao preconceito. Este protagonismo é entendido não apenas como a participação, mas como a liderança ativa de crianças e adolescentes na criação e reformulação de práticas educativas e sociais que influenciam diretamente seu cotidiano, dentro das possibilidades e limitações, tanto de adultos, quanto dos alunos.
Conceituando o Protagonismo Infantojuvenil
Protagonismo infantojuvenil é definido como a capacidade e a oportunidade que crianças e adolescentes têm de serem ouvidos, de participarem ativamente na sociedade e de influenciarem decisões que afetam suas vidas diretamente. Segundo Pires e Branco (2008, 2023), esta forma de protagonismo é um valor estruturante que busca enfrentar a invisibilidade histórica dos jovens, principalmente no ambiente escolar, promovendo uma participação que vai além do simbólico, configurando-se em ações concretas e decisivas.
O Papel da Escola no Fomento ao Protagonismo
Escolas que promovem o protagonismo infantojuvenil não apenas incentivam a participação dos estudantes em atividades escolares, mas também integram suas vozes nas decisões estruturais e curriculares. Isso implica em permitir que os jovens tenham um papel ativo no desenvolvimento de políticas anti-bullying, na formulação de códigos de conduta e na implementação de projetos que valorizem a diversidade e a inclusão. Permite, ainda, que estabeleçam e participem de redes que tenham o objetivo de integrar as diversas iniciativas, considerados territórios e populações com semelhantes questões.
Protagonismo como Estratégia de Transformação Social
Através do protagonismo, os jovens aprendem a negociar, a resolver conflitos e a desenvolver um senso crítico sobre a realidade que os cerca. Este processo não apenas os prepara para serem cidadãos mais ativos e responsáveis, mas também contribui para um ambiente escolar mais harmônico e inclusivo. As escolas que adotam essa abordagem notam uma diminuição significativa nos casos de violência e um aumento na qualidade das interações entre os alunos.
Desafios e Possibilidades do Protagonismo Infantojuvenil
Promover o protagonismo infantojuvenil traz seus desafios. Requer dos educadores uma mudança de mentalidade, de um papel autoritário para um de mentor e facilitador. Além disso, demanda das instituições educativas uma abertura para remodelar suas práticas pedagógicas para incluir, genuinamente, as contribuições dos alunos. No entanto, as recompensas desse investimento são imensas, incluindo o desenvolvimento de uma geração mais preparada para lidar com as questões sociais complexas de nosso tempo.
Protagonismo Infantojuvenil nas Redes de Enfrentamento à Violência
Não há dúvidas de que a inclusão dos jovens na formulação de políticas e práticas para combater a violência e o preconceito é crucial. Estudos mostram que quando crianças e adolescentes são ouvidos, e suas opiniões valorizadas, há um aumento significativo no sucesso das iniciativas de prevenção e enfrentamento (e.g. Schneider, 2021). Eles trazem perspectivas únicas e inovadoras, além de aumentarem a eficácia das medidas adotadas, criando um ambiente mais acolhedor e seguro para eles e seus colegas.
Criação de Redes Locais de Enfrentamento à Violência e ao Preconceito
Do ponto de vista da valorização do protagonismo infantojuvenil, a formação de redes locais que integram escolas, comunidades e famílias é uma estratégia promissora para combater a violência e o preconceito nas escolas. Essas redes funcionam melhor quando descentralizadas, permitindo respostas rápidas e adaptadas às realidades específicas de cada contexto local. Por meio destas, ações como workshops, programas de mentoria entre alunos mais velhos e mais novos, e campanhas de sensibilização podem ser implementadas eficazmente.
Palavras Finais
O envolvimento infantojuvenil no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento à violência e preconceito nas escolas é fundamental. Ao valorizar suas vozes e perspectivas, não apenas criamos soluções mais eficazes, mas também promovemos um desenvolvimento mais saudável e justo para todos no ambiente escolar. Portanto, é imperativo que escolas, políticos e comunidades reconheçam e promovam esse protagonismo juvenil como parte central das estratégias de enfrentamento à violência escolar.
Esta abordagem não só equaciona os problemas atuais, mas também ajuda a preparar futuras gerações para liderar com empatia, justiça e respeito mútuo, transformando nossas escolas em modelos de ambientes pacíficos e inclusivos.
Conheça a proposta completa:
Referências
Pires, S. F. S., & Branco, A. U. (2007). Protagonismo infantil: coconstruindo significados em meio às práticas sociais. Paidéia, 17(38), 311-320.
Pires, S. F. S., & Branco, A. U. (2023). Protagonismo como valor estruturante: Enfrentando a invisibilidade infantojuvenil na escola. Revista Portuguesa de Educação, 36(2), e23035-e23035.
Schneider, M. C., Martins, S. N., & da Silva, J. S. (2021). Protagonismo Infantil na prática: o ensino desenvolvido com a participação dos estudantes na Educação Básica. Research, Society and Development, 10(1), e14910111574-e14910111574.
Silva, L. D. S. (2012). Padrões de apresentação das cenas coletivas de violência humana nas pinturas rupestres pré-históricas da área arqueológica do parque nacional Serra da Capivara-PI (Master’s thesis, Universidade Federal de Pernambuco).
Boa leitura e um abraço
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