A educação socioemocional é uma das chaves para conseguirmos a redução de problemas de comportamento. Nossa forma de nos apresentarmos ao mundo é a síntese da interação de diversas funções fisiológicas e psicológicas, em um dado momento.
Nesse contexto, dois avanços que serão necessários para uma compreensão mais aprofundada do comportamento humano são:
(1) o reconhecimento de que estudar partes gera inteligibilidade, pois as partes constituem o todo;
(2) o desenvolvimento de novos métodos científicos que permitam acesso a conteúdos encobertos e a uma compreensão integral.
A produção científica, em psicologia, ainda se dá, na maior parte, de forma fragmentada. Essa sistemática de estudo, a despeito de algumas desvantagens, constrói conhecimento sólido, mas incompleto e aparentemente contraditório quando comparada com outras visões sobre o mesmo tema.
No que toca à educação socioemocional, veremos quais são os principais aspectos sobre uma aprendizagem formal e estruturada acerca das emoções para a redução de problemas de comportamento.
Aqui você vai ver:
O que é educação socioemocional?
É um conjunto de estratégias pedagógicas que permitem a aprendizagem sobre as emoções e sobre as interações humanas a partir de pontos de vista intra e transpiscológicos.
Quando alguém, por exemplo, aprende sobre como observar a raiva e sua poderosa ação motivadora em si, está sob a ótica intrapsicológica, aumentando a capacidade de regular os efeitos motivadores da raiva no seu comportamento motor. Percebe-se a raiva a tempo de evitar comportamentos de agressão física.
Essa mesma pessoa, sob o ponto de vista transpsicológico, pode perceber a provocação de um terceiro a tempo de agir conscientemente para regular o seu comportamento. Sente a raiva, percebe a sua ação, mas age de forma planejada para não responder à provocação como esperado.
O que são emoções?
Um tópico que sempre repetimos em nossos artigos é o que explica o que vem a ser emoções e quais é o seu papelnas decisões humanas.
Vejamos como a forma mais recente de estudar e de ganhar uma visibilidade acadêmica sobre as emoções é descrevê-las pelo que chamamos de respostas emocionais. Até o momento, ninguém conseguiu, de fato, definir satisfatoriamente o que são emoções. Sabe-se que elas participam do sistema motivacional, que se entrelaça aos significados e aos elementos semióticos que orientam os nossos processos decisórios.
É necessário destacar a natureza privada dos fenômenos emocionais. São fruto da imbricação de diversos processos e funções psicofisiológicas. O que podemos observar são os seus resultados parciais – as respostas emocionais.
Quais são as principais respostas emocionais?
- ativação fisiológica;
- tendência para agir;
- experiência subjetiva [sentimentos];
- expressão da emoção [linguagem corporal e expressões faciais].
Então, não devemos reduzir as emoções às suas respostas. Entretanto, essa limitação não nos impede de aprofundarmos a compreensão sobre como abordar esse tema de forma integral. É o que veremos a seguir.
O que é uma visão integral sobre emoções?
Alguns podem pensar que uma visão integral implica em desfragmentar o conhecimento sobre emoções, incluindo todos os aspectos em um só enquadramento teórico.
Não acredito que isso seja possível, uma vez que existem muitos processos e funções intrapsicológicos relevantes para os quais ainda não temos métodos de estudos que permitam o acesso direto. Muito se estuda a partir de triangulações. Quando uma pessoa faz uma narrativa sobre uma emoção, isso não é a emoção em si, mas o sentimento, a experiência subjetiva com o fenômeno.
É considerar, por exemplo, que as emoções influenciam o comportamento imediatamente futuro, de acordo com a capacidade de agência, da internalização do que é percebido, do processamento com as memórias, da percepção do contexto social, da previsibilidade das consequências positivas ou negativas, entre outros. Considerando que qualquer comportamento ocorre em um determinado tempo, a interação de todos esses elementos muda, alterando-se, consequentemente, o possível resultado.
É dizer que, diante de uma provocação, o comportamento agressivo pode ocorrer, em um estabelecimento penal, como uma representação positiva para um detento, pois ela ganhará uma fama entre os seus pares, a despeito de passar 10 dias sem receber visitas, como punição. A capacidade de agência [regular o comportamento conscientemente] foi determinante aqui, a despeito da decisão ser sobre comportar-se de forma violenta.
Por outro lado, um professor, ao ser provocado por um aluno, a despeito de sentir raiva, pode decidir não se comportar de forma violenta [verbal que seja] por entender a imaturidade do estudante e saber que o conteúdo da disciplina possivelmente promoverá o desenvolvimento da turma.
Em nossos exemplos, ambas as personagens experimentaram a raiva. Entretanto, a síntese dos processos e funções, a forma como as pessoas se apresentaram em determinado momento no tempo, foram diferentes. Isso se deu, pois a interação desses processos e funções foi diferente em cada caso. Nesse caso o principal regulador foi a capacidade de agência, de regular conscientemente o seu comportamento.
Como uma articulação holística auxilia na educação socioemocional?
Como explicamos, apesar e haver um padrão esperado, cada indivíduo articula os mesmos processos e funções psicológicas de forma diferente. O conteúdo simbólico de algumas dessas funções, como a memória, a imaginação ou novas emoções, por exemplo, são muito distintos entre as pessoas. Além disso, a forma como, seguidamente, interpretamos as interações é um fluxo, que não permanece idêntico a cada momento. Então, há muitos elementos que introduzem incertezas nesses cenários.
Quando entendemos a articulação de processos e funções psicológicas dessa forma, conseguimos vislumbrar a importância de processos educativos estruturados para nos ajudar a conhecer, identificar e regular todo esse complexo emaranhado de elementos, decisões e comportamentos.
Como, então, a educação socioemocional pode reduzir problemas de comportamento? É o que veremos a seguir.
Como a educação socioemocional opera na redução de problemas de comportamento?
Como temos a intenção de aprofundar esse tópico, nessa postagem vamos apenas listar os 5 aspectos mais importantes que serão motivadores para uma série de novas reflexões.
O que nos importa nesse momento é saber que a educação socioemocional desempenha um papel crucial na redução de problemas de comportamento, pois ajuda a desenvolver, de forma estruturada, habilidades emocionais e sociais que os capacitam a lidar com desafios de forma mais eficaz.
A seguir listamos cinco formas por meio das quais a educação socioemocional pode contribuir para a redução de problemas de comportamento:
Desenvolvimento de habilidades de autorregulação emocional
A educação socioemocional nos ensina a reconhecer e compreender nossas próprias emoções, bem como a lidar com elas de maneira saudável. Isso ajuda a prevenir explosões emocionais e comportamentos impulsivos.
Melhoria das habilidades de resolução de conflitos
Ao ensinar estratégias de comunicação eficaz e empatia, a educação socioemocional nos capacita a resolver conflitos de maneira construtiva, em vez de recorrermos à agressão física ou verbal.
Promoção da empatia e compreensão dos outros
Através da educação socioemocional, aprendemos a nos colocarmos no lugar dos outros, desenvolvendo empatia. Isso reduz a tendência a praticarmos bullying, exclusão social e outros comportamentos prejudiciais.
Fortalecimento do autoconceito e autoestima
A educação socioemocional nos ajuda a desenvolvermos uma imagem positiva de nós mesmos, promovendo a autoaceitação, a autoestima e a resiliência. Isso pode reduzir a busca por validação externa ou a participação em comportamentos de risco.
Promoção de habilidades de tomada de decisão responsável
Ao ensinar a avaliação de consequências e a tomada de decisões responsáveis, a educação socioemocional nos ajuda a escolhermos mais sabiamente e a evitarmos comportamentos impulsivos ou arriscados.
Considerações finais
No geral, a educação socioemocional não apenas nos auxilia no desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais cruciais, mas também gera a possibilidade de nossa participação para estabelecer ambientes mais positivos e inclusivos. Isso, por sua vez, pode levar a uma redução generalizada e significativa de problemas de comportamento.
Boa leitura
Sergio Senna
