Amor virtual ou armadilha? | Descubra como detectar golpes no Tinder

Divulgue e opinie
Leitura: 6 min.

Valeria Calpanchay é como se chama a mulher que afirma ter percebido as artimanhas do golpista do Tinder. Nossa proposta é analisar as estratégias da mulher que conseguiu descobrir o homem que dava golpes no Tinder.

A Netflix lançou um documentário sobre o caso, enfocando três vítimas que se envolveram com o golpista. A obra expõe as estratégias usadas por Shimon Hayut, que utilizava o nome de Simon Leviv para enganar mulheres no aplicativo. Ele fingia ser extremamente rico devido às atividades de mineração e venda de diamantes.

 

Antes de passarmos à história de Valeria, vejamos o que eu recomendo.

 

Dicas para se proteger do golpes no Tinder

Detectar golpes no Tinder requer vigilância e atenção aos detalhes. Aqui estão cinco elementos fundamentais para ajudar na detecção de golpes:

    1. Perfil Incompleto ou Suspeito: Perfis de golpistas muitas vezes têm informações limitadas, fotos escassas e descrições genéricas. Desconfie de perfis que parecem não fornecer informações pessoais detalhadas.

    2. Comunicação Rápida e Intensa: Golpistas muitas vezes tentam criar uma conexão emocional rápida. Se alguém parece estar apaixonado ou excessivamente interessado após apenas algumas mensagens, isso pode ser um sinal de alerta.

    3. Solicitação de Dinheiro: Uma tática comum é pedir dinheiro ou informações financeiras. Se o seu correspondente pedir dinheiro para emergências ou outras desculpas, isso é um grande indicador de um golpe.

    4. Fotos de Perfil Suspeitas: Use a pesquisa reversa de imagens para verificar se as fotos do perfil são roubadas de outros lugares na internet. Muitos golpistas usam fotos de modelos ou pessoas aleatórias para criar perfis falsos.

    5. Relatos de Histórias Inconsistentes: Golpistas frequentemente mudam suas histórias ou fornecem informações contraditórias ao longo das conversas. Fique atento a essas inconsistências.

 

Golpes no Tinder – o caso Valéria Calpanchay

Fiquei curioso para saber quais foram os indicadores que a fizeram desconfiar e a não prosseguir com os encontros. Vejamos então o que Valeria Calpanchay.

A partir de encontros realizados pela plataforma Tinder, ele conhecia e enganava mulheres mundo afora. Valendo-se de sua esperteza, encenava levar uma vida de luxo na qual envolvia inicialmente as suas vítimas. Uma de suas potenciais vítimas revela quais foram os indicadores que a fizeram desconfiar.

Valéria conta que descobriu que poderia ter sido uma vítima quando reconheceu as fotos de Shimon ao assistir o documentário. Ela, em entrevista ao jornal Mirror, revela os seguintes indicadores que a fizeram suspeitar.

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Muita conversa e narcisismo evidente

♦ DICA

Ela destacou achar estranho que um homem falasse tanto de si e não demonstrasse quase nenhum interesse pelas histórias de seu date.

Entretanto, mesmo demonstrando uma grande vontade de falar de si, ela notou que ele desconversava e mostrava desconforto diante de perguntas mais específicas.

Em minha opinião, deve ter sido esse aspecto que a fez desconfiar. O fato da pessoa mostrar narcisismo não é necessariamente um indicador de golpe. Não obstante, mostrar desconforto quando perguntas sobre si são realizadas mostra uma inconsistência com a fala narcisística.

Foi então essa inconsistência que levou Valeria a desconfiar. Para saber mais sobre como o narcisismo encaixa no comportamento de golpistas veja: Características de um psicopata

Uma questão interessante nesse caso, é que a personalidade extrovertida [muita conversa] e narcisística de Shimon não atraiu Valeria, o que pode ocorrer de forma diferente com outras mulheres, que se sentirão atraídas justamente por essas características.

Então esse indicador deve, sim, ficar no “radar” das pessoas, mas não é muito claro para definir se uma pessoa é um golpista. Por enquanto podemos apenas considerar que Valeria Calpanchay não gosta de homens que falam muito de si e que não demonstram interesse pela outra pessoa…..

♦ DICA

Ser reticente diante de perguntas específicas é um excelente indicador de que algo está errado e deve levantar o que os norte-americanos chamam de “red flags”, sinais de alerta.

 

Projeção de riqueza

Outro indicador que Valeria levantou foi a insistente demonstração de riqueza. Essa estratégia, que encontramos genericamente em qualquer golpe, é conhecida como “convincer”, que consiste em fornecer pistas para construir a confiança e credibilidade da proposta para as vítimas, sem a qual dificilmente um golpe será bem-sucedido.

No caso de Shimon era fundamental que as vítimas acreditassem que ele era realmente rico. Nesse encontro, ela conta que ele fez o seguinte:

    • Marcou o encontro em um bairro de Berlim conhecido por ser frequentado por pessoa da classe alta
    • Escolheu um restaurante caríssimo para o encontro, mas resolveu ir a outro local porque não gostou do menu;
    • Foi fumar um charuto em uma loja especializada do bairro;
    • Fez a refeição em outro lugar que Valeria classificou como caríssimo;
    • Durante a conversa fechou um negócio de alguns milhões de dólares pelo telefone.

Essa última ação de Shimon, simular uma conversa ao telefone, é muito conhecida como estratégia de “convincer“, pois é de fácil execução e a vítima escuta apenas o que seu acompanhante está falando.

Isso abre espaço para que possa ser utilizada em vários cenários como, por exemplo, para criar a ilusão de que alguém exerce determinada profissão, ao conversar sobre tópicos específicos ou para projetar a imagem de riqueza, simulando fechar um negócio na frente da vítima.

Para conhecer mais sobre essa fase de um golpe, que eu chamo de estratégia da fidelização, veja o artigo: Radiografia dos golpes: a fidelização no qual exemplifico a partir de uma simulação sobre a medicina em um golpe realizado no Reino Unido. 

Na fase da fidelização, o golpista experiente faz as coisas parecerem naturais. Por exemplo, no início do encontro ela avisa a vítima que está prestes a fechar um grande negócio e que, a despeito de apreciar muito a ocasião, terá que atender uma ligação telefônica. A partir daí, nenhuma ligação parecerá suspeita…. Pelo contrário, a finalidade dessa técnica é simular a grande importância que a vítima tem, pois apesar dos grandes negócios em andamento, Shimon estava ali passando tempo com ela….. Além de mostrar-se realemnete rico, é óbvio.

É uma estratégia psicológica que tem tudo para ser bem-sucedida. No caso de Valeria, ela apenas informa que achou estranho alguém falar de dinheiro e fechar negócios na frente de uma pessoa estranha…. Outra mulher poderia interpretar como um sinal de confiança por parte de Shimon, revelando seus negócios milionários já no primeiro encontro….  

Foi uma percepção pessoal dela, talvez porque não goste de homens nem convencidos, nem exibidos. Entretanto, enfatizo que essa estratégia de “convincer” é muito usada e, se bem articulada, é fatal para a maioria das vítimas. Convincer é uma palavra da Língua Inglesa que significa alguma estratégia para dar credibilidade.

Para conhecer essa e outras técnicas viste a página sobre INFLUÊNCIA.

 

Falava de outras mulheres na frente dela

Valeria conta que achou estranho o fato de Shimon ficar mostrando as fotos de outras mulheres. Certamente, considerando uma cultura latina, é inconcebível que um homem fique mostrando fotos de outras mulheres e fazendo comentários durante um encontro.

É indiscutivelmente inconcebível, de extremo mal gosto e possivelmente ofensivo se considerarmos um encontro genuíno em que uma pessoa deseja conhecer outra para um relacionamento monogâmico e heterossexual.

Entretanto, consideremos outro cenário no qual essa estratégia é uma “sondagem” para verificar as opiniões da pessoa sobre relacionamentos abertos e sobre a sexualidade da vítima. O documentário da Netflix mostra uma das 3 vítimas como “amiga” e curtia as festas de Shimon…. As informações passadas sobre o envolvimento dessa pessoa com todo o cenário de Shimon não me pareceram completas e é estranho que uma “amiga” tenha emprestado tanto dinheiro…

O provável é que Shimon sondava as suas vítimas e proporcionava a elas o necessário para tirar delas o que desejava. Se não era um relacionamento com ele, poderia ser com outra pessoa que gravitava em torno dele. Ao manter o relacionamento com outras pessoas, a vítima seguia em torno de Shimon que, em última análise, era quem proporcionava tudo aquilo. Em minha opinião, esse é um cenário provável.

 

Ela desistiu de sair com Shimon Huyat

Valeria conta que, após o encontro que durou cerca de uma hora e que já tarde da noite ele a chamou para uma festa em sua residência [imóveis de luxo eram alugados, mas mostrados como propriedades dele].  Já preparada para dormir, ela não aceitou o convite.

♦ DICA

A renúncia é a estratégia protetiva mais importante. A pessoa capz de renunciar a qualquer proposta tem a capacidade de se proteger quando tentam enganá-la.

Penso que não aceitou porque já havia desistido de investir nesse relacionamento e que não curtiu o cara. Esse é um aspecto importante do golpe, pois o que Shimon faz é selecionar, pelas suas estratégias, um tipo certo de vítima, evitando perder tempo com quem vai perceber as suas manobras antes de fornecer-lhe o dinheiro, que é o objetivo desde o início.

Então, ele precisa de um determinado “tipo” de vítima e suas estratégias colaboram para essa seleção.

O que Valeria pensa ser uma percepção aguçada, na realidade ajuda o golpista a ser mais objetivo e a ganhar tempo enganando as pessoas “certas” para os objetivos dele…..

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Conclusão sobre a percepção de Valeria Calpanchay 

Em minha opinião, Valeria Calpanchay não apontou indicadores capazes de serem generalizados para a detecção de golpes no Tinder. O que ocorreu foi que ela não gostou de como Shimon se apresentou como homem para ela. Entendo que o fato dela não ter caído no golpe foi apenas uma coincidência ou ela não se encaixava no perfil da vítima, pois a estratégia dele foi sempre muito boa e eficaz.

Convidava suas vítimas a desfrutarem de passeios e festas de luxo sem pedir nada em troca. No contexto dos golpes no Tinder, algumas vítimas eram até mesmo convidadas a viajarem com ele em jatos particulares e a frequentarem locais que não faziam parte de suas rotinas.

Ninguém pode negar a efetividade dessas estratégias para construir a confiança e para mostrar àquela vítima que ele estava falando sério sobre o relacionamento amoroso. Além disso, ao não exigir, nem pedir prontamente qualquer retribuição, a confiança é construída ainda mais rápido. O golpe propriamente dito fica para uma fase posterior.

Depois que a situação ocorre e que o golpe é revelado, fica fácil dizer que quem caiu é trouxa ou mostrar-se esperto por não ter se deixado levar pela conversa do pilantra….

Não vi na narrativa de Valeria nada que, objetivamente, possa ser generalizado para servir como indicador que alguém esteja envolvido em um golpe, sem que isso deixe a pessoa paranoica ou incapaz de aproveitar um encontro genuíno com alguém um pouco narcisista e extrovertido.

Então fica a lição, todo cuidado é pouco com os golpes no Tinder. Seja para descobrir um golpista, seja para não descartar um possível bom relacionamento.

Veja a entrevista de Valeria no Mirror [em inglês]

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